Amar por dois pode combinar bem com as rimas das canções ou fazer sentido na história da novela. Na vida real, nenhuma relação saudável pode ser sustentada por apenas uma pessoa, não importa o quanto ela é sábia, madura e incrível. Não importa o quanto ela quer, se esforça e sonha fazer dar certo. Minha avó dizia que quando um não quer, dois não brigam. O ditado vale pra dois não amam ou não vivem bem também.
Tá, pode ser que você tenha em mente a história daquele casal que era super feliz porque um fazia absolutamente tudo pelo outro. Mas será que quem vive para fazer absolutamente tudo pelo outro vive bem? Vive de maneira emocionalmente sustentável? A gente precisa assumir que relacionamento é troca. A gente dá e quer algo de volta. Pode parecer seco e interesseiro falar assim, mas a gente tem interesses sim na relação: a companhia, o acolhimento, a parceria.
Recebo quase que diariamente mensagens de mulheres (algumas poucas de homens) falando sobre os (as) companheiros (as) e suas falas violentas, se queixando de parceiros que jamais topariam um processo terapêutico ou que ridicularizam seu choro e vontade de cuidar da relação. Muitas acreditam que ainda podem fazer a relação dar certo mesmo assim. Mas será? Será que a vontade de apenas um é o suficiente?
Uma das conversas mais essenciais – mas também mais raras – dos relacionamentos é o alinhamento das expectativas. O que a gente deseja pro futuro? O que é amor pra você? Como me sinto amada? Como você sente que está recebendo amor? O que é uma relação bacana pra você?
As vezes o que a gente quer é o oposto do querer do outro. O que importa pra nós é detalhe pro outro. E isso não é, por si só, um problema, se conseguimos conversar, ajustar as coisas, cuidar do que é importante pra cada um. Mas esses ajustes só são possíveis quando a gente se abre a falar e escutar. Nada é óbvio, por mais que a gente ache que sim.
Não há relação que seja só felicidade. Não há encontro que não demande esforço, energia, flexibilidade. Mas precisamos saber os nossos limites nessa entrega, ou nos esvaziamos e já não sabemos quem somos.
Nenhuma relação vale a nossa saúde mental.