O dia em que descobri que não sabia lidar com os meus sentimentos foi dolorido. Por anos eu me iludi que era bem resolvida e sabia lidar muito bem comigo mesma, obrigada. Só era meio brava, mas a culpa era da idiotice alheia, não minha. Miguel nasceu e eu decidi que ia ser calma e engolir toda a minha raiva, porque boas mães não sentem raiva assim.
O menino cutucou minha onça com a vara curta, me vi surtada, segurando os braços do serzinho de menos de um metro, com vontade de esganar. Chorei por ter certeza absoluta de que meu sentir era maior que eu. E como eu iria ensinar o menino a lidar com a raiva dele se eu não sabia o que fazer com a minha?
Comecei a me observar, tentei me conhecer. Oi, prazer dona raiva, o que você me conta de novo? Bora conversar? Como você me avisa que tá chegando?
Caramba, descobri que ela me dava sinais que sempre passaram despercebidos. Parei de brigar, com ela, comigo. A gente começou a se entender.
Aí minha filha Helena chegou, transbordando em lágrimas, e eu, que estava começando a escutar a raiva, descobri que não sabia o que fazer com o meu choro, que nunca tinha conversado com a tristeza.
Lá vou eu de novo. Oi dona tristeza, tudo bem? Que me conta de novo – ou de velho, já que tá tudo tão misturado? Bora conversar?
Tenho aprendido que a consciência do meu não saber é valiosa. É, eu sei que você queria uma resposta diferente. Mas é isso, não tem. Aproveita e chama essa frustração aí pra conversar, a bichinha tem muita coisa pra contar, garanto.
Lembrar que não sei me ajuda a parar, ter atenção, tentar com cuidado, respirar fundo. Me tira do automático.
A gente costuma ficar mais atento(a) quando está fazendo algo que não sabe. Perde a arrogância da certeza, se coloca em postura de aprendiz.
Meus filhos não precisam das minhas certezas, das minhas respostas, dos meus automatismos.
Precisam da minha coragem de assumir o que não sei, da disposição pra aprender, da vontade de encarar as perguntas.
Eu estou aprendendo. A ser mãe, a ser a eu, a escutar essa ebulição que acontece dentro de mim quando os sentimentos deles transbordam.
Aprendiz de mim, deles, da vida.
E você, assume seu não saber?