Lembro o que sentia quando via uma criança dando escândalo no mercado. Eu, pessoa sem filhos que não fazia ideia do que era educar, que nunca havia lido sobre desenvolvimento infantil, eu, iludida com tudo o que a sociedade me dizia sobre ser uma boa mãe, menosprezava aquela mortal e, com um ar de superioridade que só tem que nunca esteve na arena – ou nunca compreendeu a profundidade da luta – , pensava: “Filho meu NUNCA!“.
A lista de “filho meu nunca!” era imensa. A maioria de nós tem essa lista clara na cabeça. E ela é uma grande merda.
A criança se joga no chão, o adolescente dá uma resposta desaforada, e nós nos desconectamos deles, das suas necessidades e dos nossos sentimentos, e entramos em uma batalha pra provarmos para nós mesmos que não somos aquele tipo de pais. Aquele tipo, que olhamos com olhares tortos.
Em vez de lidar com o comportamento e as suas causas, sentimos a vergonha, a frustração e a raiva nos tomar e interpretamos aquelas atitudes como uma prova de que fracassamos. E nós não queremos fracassar. Gritamos, surtamos. Não, nós somos bons, somos capazes e filhos de bons pais não agem assim. Filhos de bons pais são comportados, doces, amáveis, responsáveis. Lutamos com o comportamento dos filhos porque ele arranha a imagem que criamos pra nós.
Dissemos “FILHO MEU NUNCA!”, que parte eles não entenderam?
Enquanto a imagem dos pais ideais escorre pelas nossas mãos, perdemos o controle sobre a única coisa que realmente temos controle, as nossas atitudes. Nossas crianças e adolescentes não são nossos estandartes ou cartões de visita. Não são nosso selo de bons pais ou boas mães.
A nossa qualidade como pais não pode ser medida pelo comportamento do outro, ou viveremos numa montanha russa, oscilando entre céu e inferno algumas vezes por dia. Você é boa ou bom o suficiente independentemente do comportamento do outro, e essa é uma construção interior que apenas você pode fazer. E quando estou convicta disso, o mau comportamento vira só um mau comportamento. Não vira uma luta ou um atestado de incompetência.
Todos temos nossas belezas e nossas feiuras, nossas luzes e nossas sombras. A criança e o adolescente não são diferentes…não é sobre você.