Acordei com a Cristina falando em minha cabeça. Uma história forte, uma mãe que, depois de 18 anos de dedicação ininterrupta, quer ir embora. Uma esposa cansada de cuidar e não receber cuidado. Uma mulher que seguiu o roteiro que lhe foi imposto, mas depois de 45 anos, não se reconhecia na própria vida.

Levantei com o coração acelerado, procurando o computador. Derramei o primeiro capítulo num jorro. Enviei para amigas. “O que vocês acham?”. “De onde saiu essa história? Como assim você não sabia que ia escrevê-la?”
Não sei, só sei que foi assim.

Acompanhei a Cristina em seu envelhecimento, dei as mãos às suas histórias, a vi desabrochar. A vida só acaba quando acaba, ela me ensinou.

Chorei, ri, me arrepiei. Ela, tão diferente de mim, outra geração, mas tantas semelhanças. Senti raiva da sua passividade, me emocionei com a sua coragem.

Sei que parece estranho falar da Cristina, a personagem principal de Ensaios de despedida, meu novo livro, como se ela existisse fora de mim, mas é assim que me relaciono com o que escrevo. Narro algo que não sei de onde vem nem para onde vai. Descubro o rumo da história a medida que ela brota. E que orgulho que eu tenho dos rumos que essa história tomou.

Ensaios de Despedida está no mundo. 

Espero que ele toque os corações de quem ler, como tocou o meu enquanto escrevia.

Ansiosa para vê-lo chegar nas mãos de vocês.