Há que se dar espaço para a tristeza

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Eu nunca soube ficar triste. Coisa estranha de se falar, mas é a verdade. Há uma sabedoria única em se permitir entristecer, calar, aquietar. A tristeza me assustava – e as vezes ainda assusta – muito. Se misturava com um medo de me perder nela, de ser engolida por seus tentáculos e não conseguir mais me mexer. De encarar seus olhos profundos e perceber que os motivos pra ficar perto dela se acumulavam, afinal, eles estão sempre por perto.

Quando o coração aperta e a alma pede quietude, as vozes internas, aquelas que aprendi a escutar faz tempo, me dizem que não há motivo pra chorar.
As contas estão pagas e, se não estão, tenha fé, não chore.
Você é forte, não deixe a dor chegar, não chore.
Trabalhe, faça esportes, coma, saia, beba, veja tv, tome um remédio qualquer, mas não chore.

Garanta que as portas para a tristeza chegar estão fechadas, que as janelas não deixarão que ela se aproxime, que não há frestas.

Mas ela fica dentro e, com tudo trancado, não pode sair. Abafada ela fermenta, cresce, se espalha, ocupa tudo com raiva, com dor, com briga, com desânimo.

Tô (re) aprendendo a chorar.
A gente nasce sabendo mas todos ao redor nos ensinam a esquecer.
Daí o choro chega e a gente não sabe onde pôr as mãos, como se mexer, como ficar na presença dele. Se torna uma visita daquelas com quem não temos intimidade, que a gente sorri mas quer, de verdade, que vá embora rápido.

A tristeza não tem pressa, ela é o oposto disso. Chega e se assenta com calma. Olha cada canto, não se distrai fácil.

Há que se dar espaço.
Abrir as janelas, as portas. Não ter medo das frestas. Não, não é pra que ela possa entrar, mas justamente o oposto. Pra que possa sair.
Pra que cumpra o seu papel, ilumine os cantos, nos faça limpar poeiras antigas.
Dela não se foge, quando vamos aprender?
Ela nos mostra novos caminhos.
Ela nos ajuda a sentir o que deve ficar e o que deve ir.

Vem, dona tristeza, tem espaço pra você aqui também. A alegria, de verdade, chega quando você deixa de se esconder em todos os cantos.
Vou aprender a abrir espaço e brincar nesse carrossel.
Um pouco tonta, as vezes um pouco enjoada.
Mas juro que vou.