Uma das maiores mentiras, talvez a mais cruel, que a modernidade nos trouxe é a de que somos os únicos responsáveis pelo que nos acontece. O conceito de auto responsabilidade, tão importante para a saúde emocional e para a saúde das relações foi deturpado, distorcido e vendido pelos defensores da “alta performance”. Até o equilíbrio emocional agora é uma questão de meritocracia.
Amor, você não dá conta da casa, dos filhos, da rotina, do curso de inglês, da aparência impecável, do seu casamento, e daquelas horinhas tão necessárias de auto cuidado? Como assim? Tem algo de errado com VOCÊ, não com o sistema. A sua sobrecarga e as expectativas irreais que são despejadas em suas costas todos os dias são interpretações suas, tá? (Contém ironia).
Fazer com que o indivíduo se veja como grande culpado pelas dores que vive é a forma perfeita de isentar o coletivo das suas responsabilidades. E de manter a sociedade como está.
Não, não tô dizendo que você é passivo ou passiva à sua realidade, mas que o seu poder de atuação é limitado pelo seu contexto. Já disse e repito, EU NÃO DOU CONTA significa eu não tenho apoio suficiente para. Não é um atestado de incompetência seu.
Acredito na construção de uma vida mais maravilhosa, de dias melhores. Mas não posso corroborar com a ilusão de que basta querer pra sustentar todos os pratinhos desse malabarismo diário sorrindo e fazendo agachamento. Isso é cruel.
Dia desses escutei, em uma aula, que quando o indivíduo falha é sinal que a sociedade antes falhou com ele. Reconhecer as nossas faltas nos faz menos cruéis com nós mesmos. Sim, podemos muito. E poderemos muito mais quando não estivermos carregando pesos que não são nossos.
Somos seres de comunidade.
Sonho com o dia que lembraremos disso.
E que uma mãe cansada e sobrecarregada entenderá que lhe falta apoio, não competência.
Tenho fé.