Escutar é fazer alguma coisa. 

Design sem nome (2)

Sempre que falo sobre empatia e escuta alguém me diz: “Tá, a gente escuta, e depois? Faz o que?”. A gente quer saber o que falar, o que fazer, como agir. Quer dar conselho, quer dizer pra amiga o que ela deve falar com o babaca do namorado, pro amigo como ele deve se posicionar com o chefe, pro filho como ele deve reagir diante do comportamento do coleguinha. A gente quer resolver, porque ver quem a gente ama sofrendo é difícil demais, causa uma dor grande, uma agonia que a gente precisa encerrar fazendo alguma coisa.

Escutar é fazer alguma coisa. É sustentar o incômodo, por acreditar que depois dele existe algo maior e mais bonito. Que cada lágrima derramada lava a gente por dentro, desafoga a alma, abre espaço pra vida se movimentar.

A gente precisa aprender a confiar no poder de chorar até suspirar. De sentir o corpo tremer botando a dor pra fora, de conhecer a nossa capacidade de encarar a aflição e sair inteiro dela.

Talvez nos falte referência de escuta silenciosa.
De colo que não diz “se eu fosse você”.
De amparo que acredita na nossa força.

A gente aprendeu a parar de chorar entre soluços, engolindo o choro e o nó na garganta.
E quem aprendeu que nenhum dos nossos motivos é válido, é de verdade.
“Quer um motivo de verdade pra chorar?” é tão tão violento. Quem pode julgar as nossas razões?

Quando alguém me diz que não consegue chorar eu penso nas crianças e em sua liberdade de pôr pra fora o que dói por dentro. Até que alguém diga que não podem. Até que alguém que já desaprendeu a chorar as ensine a esquecer também.

Te desejo escuta verdadeira.
Colo acolhedor.
Chorar até suspirar.
Sem lágrima endurecida, o sorriso tem um brilho único.

E quem (re) aprende a chorar, libera o outro pra sentir também. Confia no processo.

A vida é mais gostosa quando a gente tem companhia pra gargalhar e colo pra chorar.

Infinitamente mais gostosa…