Quando eu era criança, lembro de um menino que puxava o meu cabelo na escola. Lembro também de ter escutado de alguns adultos que ele agia assim porque gostava de mim. “Meninos são assim!”.
Quando acreditamos que meninos são incapazes de serem gentis, amorosos, doces e cuidadosos, estamos reforçando o discurso que é a mulher a responsável por cuidar, que isso é natural apenas nas meninas. Perpetuamos a ideia de que eles devem ser tratados, para sempre, como crianças que não conseguem marcar as próprias consultas médicas.
Educar uma criança é – ou deveria ser – uma missão de uma comunidade, ninguém deveria assumir essa responsabilidade sozinha.
Mas em vez de apoiar e assumir a responsabilidade no cuidado, no estudo, na pesquisa e na dedicação, muitos homens causam mais dor de cabeça que o comportamento dos filhos. A mãe precisa respirar e conter as próprias explosões e dores porque o pai, homem adulto, não consegue dar conta das próprias emoções.
Sim, eu sei que somos socializados de maneiras diferentes, que a história pessoal de muitos homens é atravessada pelas mais diversas violências, afinal, como diz lindamente Bell Hooks, os meninos são treinados pra o exercício do poder. Maaaaas, essa consciência não deve aprisionar, mas libertar. “Não fui treinando pra enxergar a sujeira da casa, como faço pra lembrar? Vou anotar”. “Não fui educado para ser gentil com as crianças, vou me esforçar pq sei que vai dar trabalho.” “Como vou treinar pra fazer isso que não é natural pra mim?”
Mais de 90% de quem me segue é mulher. Elas assumem a responsabilidade pela educação, pela comunicação na relação, por lidar com a própria família e a família do marido. E, mesmo com tanto estudo e dedicação, ainda lidam com birra de quem não abre um livro ou escuta um podcast pra aprender a cuidar melhor de si ou do outro.
Difícil quando a equipe faz a gente pensar que era melhor fazer o trabalho individual. Difícil ver a nota baixar e se esforçar sozinha pra aumentar a média.
Queridos, não escolhemos como fomos educados, mas podemos escolher o que faremos com o que fizeram conosco. A responsabilidade por lidar com as nossas dificuldades é nossa. Bem-vindos à vida adulta.