Hoje só quero te convidar a vivenciar a leveza que abandonar o controle traz. A leveza de entender que somos suficientemente bons, mesmo com todas as nossas imperfeições.

A vida, por vezes, pede de nós uma capacidade de desapego maior que a que achamos que somos capazes de ter.

Lembro que, quando Helena nasceu, eu quase enlouqueci. Eu queria que Miguel não sentisse a chegada da irmã, queria seguir sendo exatamente a mesma mãe que era pra ele. E queria ser pra ela a mãe que ele teve quando nasceu. Até que uma noite, quase três meses depois do nascimento da caçula, eu cheguei ao limite. Tentei colocar os dois pra dormir, sem deixar que o pai assumisse, e acabamos todos estressados. Depois de muito choro, me fechei com a pequena no quarto para amamentar enquanto Miguel, nos braços do pai, implorava: “Eu só quero um pouquinho de mamãe, é só um pouquinho.” Eu chorei junto. Ele com dois anos, ela com três meses, e eu apegada a mãe que eu era antes do furacão segundo filho passar na minha vida.

Eu achava que era uma boa mãe pra um e, definitivamente, tinha me tornado um belo prato de bosta pra dois. Eu não queria aceitar as limitações da mãe de dois. Eu não queria aceitar que aquela era a minha realidade. Queria que tudo seguisse igual com o pequeno detalhe de uma criança a mais. 

Desapegar da mãe de um me fez descobrir quem era a mãe de dois. Me fez conhecer novas dores e novas delícias. E eu descobri coisas sobre mim que não viriam a tona de outra forma. Eu não sei qual é o seu apego da vez, mas sei que há uma sabedoria única e ancestral em deixar morrer o que precisa morrer. Em deixar ir o que já não pode ficar. 

Tenho, mais uma vez, vivido a difícil missão de deixar ir.  Os planos, as expectativas, as certezas. De aceitar ficar com o que é possível. Com o que dou conta de ser e fazer sem que pra isso tenha que me despedaçar. 

O que você precisa deixar ir pra continuar inteira(o)?

Que pedacinhos esse apego excessivo tem tirado de você?

Passados esses anos da chegada de Helena, vejo com clareza que o fim foi o começo de algo melhor.

Que os planos que desfazemos se convertam em vida bem vivida. Amém.