Relacionamentos nos frustram. O outro não nasceu pra se encaixar nas nossas expectativas, não existe pra nos poupar de encarar a imensa distância entre a idealização e a realidade. Aquele presente que você comprou achando que ela ia amar, mas os olhos não brilharam, aquele dia planejado com riqueza de detalhes, mas que saiu dos trilhos desde o começo, aquela narrativa incrivelmente desenhada pela mente, mas que ganhou cores opacas quando veio ao mundo.
Coisa difícil lidar com a frustração. Com o não quando eu queria o sim, com o “mãe, eu não gostei!” quando eu queria escutar “Que incrível, você é a melhor mãe do mundo!”.
Coisa difícil aceitar que a minha régua não é universal, que não tenho controle dos níveis de empolgação, alegria e disposição de quem quer que seja.
As vezes o casamento tem frustrado mais que ajudado, tem magoado mais que cuidado, balança desequilibrada. É, as vezes, acaba. Com filho não dá. Não acaba. Não vai cada um pro seu lado. Com filho a expectativa é grande, a frustração é abundante, proporcional ao que a gente projeta. Com filho a gente precisa aprender a lidar com a nossa frustração (difícil) e ainda ensina-los a lidar com a frustração deles (mais difícil ainda).
Frustração que vira irritação, que vira culpa, que vira mais frustração, que vira mais irritação. Ciclo do caos.
Não vai rolar viver sem se frustrar. Junta os caquinhos, respira fundo, chora a morte da expectativa, cria outra, porque não dá pra viver sem sonhar com o por vir. Mas cria sabendo que ela tem altas chances de virar caquinho, de se esfacelar, de pedir ajuste, reajuste, recomeço. Cria sabendo que ela existe pra ser só ideia. A vida, a vida mesmo é outra coisa.
Abraça a possibilidade de erro, o desacerto, a capacidade de transformação. Coisa difícil é lidar com a frustração. Mais difícil ainda é acreditar que ela não vai acontecer. Ninguém cabe na sua forminha. Você não cabe na de ninguém. Ainda bem.