Tenho tendência a explosões de raiva. Desde que me recordo, sentir raiva faz parte da minha existência. Volta e meia meus pais, com a melhor das intenções, me diziam: “Filha, você não pode ser assim, isso só vai te prejudicar.” Lembro que meu primeiro pensamento era: “Eu não tenho jeito.”
Quebrar a cara parecia um caminho inevitável, já que eu não fazia ideia – e até hoje não faço – de como deixar de ser quem eu era.
Onde fica o botão de deixar de ser assim? Como a gente faz pra apagar traços da personalidade? Apesar de nunca ter falado a mesma frase para os meus filhos, várias vezes já me peguei pensando: “ele não poder ser tão ansioso”, ou “ela não pode ser tão chorona.”
Várias vezes eu enxerguei características deles com lentes de aumento, como fardos que eu queria arrancar de suas costas para evitar o sofrimento. Quando esses pensamentos me invadem, esqueço que nenhuma característica isolada é capaz de definir os meus filhos. Ou definir quem sou. Ou definir quem você é.
Somos muitas coisas em um só. E eles são muito mais que os meus julgamentos sobre a sua personalidade. Esqueço, também, que o que nos faz sofrer não é sermos quem somos, mas a nossa pouca habilidade de lidar com quem somos.
Não era a minha raiva, mas a minha pouca capacidade de administrar tudo que ela desperta em mim. Nenhuma característica sua, minha ou dos nossos filhos pode fazê-los sofrer se eles souberem cuidar de si exatamente como são.
Dito isso eu te pergunto: Se não existe um botão de deixar de ser assim, por que cargas d’agua a gente repete isso para os nossos filhos?
Por que a gente insiste em acreditar que educar é brincar de massinha?
Quando vamos entender que a nossa missão é ajudá-los a lidar com quem eles são?
Que é incentivar a autopercepção e o autoconhecimento?
Que cuidar e amar quem se é é um passo importante para a saúde física e mental?
E, tão importante quanto isso, quando a gente vai finalmente parar de brigar com que é e começar a se aceitar?
Quando você parar de procurar o botão de deixar de ser assim em você, provavelmente vai parar de procurar em seu filho também. E a vida vai ficar mais leve, pode acreditar.