O seu querer é todo seu. Cuida dele.

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Elisama-40

Mulheres são educadas pra serem desejadas, não desejantes.
Desejadas pela beleza, pela simpatia, pelo cuidado, pela utilidade.

Nos esforçamos pra caber nos espaços designados pra nós, sem questionar o quanto daquela fôrma realmente nos atrai.

Eu conversava com amigos sobre o envelhecimento de mulheres próximas que, ao se aproximarem dos 65, 70 anos, alcançam o ápice da rabugentice. Amarguradas, amargam muito do que lhes rodeia.

É tentador pensar que o problema está nelas, nas velhas chatas, nas mães excessivamente controladas, nas tias insuportáveis. Mas há que se lembrar que a forma que a nossa sociedade funciona é uma fábrica de mulheres loucas – enlouquecidas.

Anos se esforçando pra serem desejadas arrancam delas a capacidade de desejar apenas pra si: não pra família, não pro marido, não pra mãe adoentada que está sob os seus cuidados. Para si.

Quando não mais se encaixam no estereótipo de desejáveis sexualmente e já não são absolutamente necessárias na vida dos filhos e dos que delas dependiam, sentem o chão sendo arrancado sob os seus pés. O desejo do outro as sustenta de pé.

Certamente você conhece alguém assim. Todos conhecemos. E este é o destino direto da mulher que não conquistou, remando contra a maré, a capacidade de sustentar o próprio querer.

Há uns dias percebo a minha filha falando o que quer em um tom mais baixo, quase envergonhada por querer. Não se iludam, o que fazemos em nossas casas é apenas uma parte do aprendizado que nossas crianças terão na vida. Filho de feminista pode virar machista sim, porque mãe sozinha não dá conta de destruir as violências do mundo.

Pois bem, olhei para ela nos olhos, passando um recado sério e importante:

Sustenta o seu desejo, filha. Fala em voz alta, escuta a sua voz. Mesmo que eu te diga não, você pode querer. O seu querer é todo seu, cuida dele.

Anos de terapia e leituras e eu, volta e meia, preciso me lembrar de sustentar meu desejo ou paraliso de medo do olhar alheio.

Louca!
Gorda!
Sem vergonha!
Egoísta!
Grossa!

Desejadas, não importa o que custe.
Não, amores.
Desejantes, não importa o que pensem.