Quem sustenta o peso do cuidado?

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“Ser imprescindível é um peso.”

Esta frase dita pela protagonista do meu novo romance “Ensaios de despedida”, poderia ser apenas ficção, mas é a realidade silenciosa que milhares de mulheres brasileiras vivem diariamente. Cristina, que escreve cartas para a filha ao decidir abandonar a família carrega o peso invisível que muitas de nós conhecemos bem.

Você sabia que a ansiedade, transtorno mais comum no Brasil, faz parte do dia a dia de 6 em cada 10 mulheres brasileiras? Não é coincidência. Segundo a pesquisa Esgotadas, do Think Olga , a sobrecarga de trabalho doméstico e a jornada excessiva são o segundo maior fator de impacto na saúde emocional feminina, perdendo apenas para preocupações financeiras.

E como separar essas duas preocupações quando falamos da economia do cuidado?

O trabalho de cuidar exige tempo, esforço contínuo e permanece invisibilizado. São horas dedicadas a dar banho, preparar refeições, limpar a casa, lavar roupas, prevenir doenças, educar… A lista é interminável.

Os números não mentem: mulheres dedicam o dobro de tempo nas tarefas de cuidado, enquanto seguem ganhando menos que os homens e sendo mais impactadas pelo desemprego.

Esta não é apenas uma questão de divisão de tarefas domésticas. É uma questão estrutural que afeta diretamente nossa saúde mental, nosso desenvolvimento profissional e nossa liberdade. Quando falamos de saúde mental feminina, precisamos incorporar a perspectiva de gênero e recortes de raça e classe, entendendo que o acesso à educação, habitação, alimentação, renda digna e transporte são fatores determinantes.

Em “Ensaios de despedida”, exploro através da ficção o que acontece quando uma mulher decide não ser mais o pilar que sustenta tudo e todos ao seu redor. O romance levanta questões incômodas, mas necessárias: até quando seguiremos normalizando esta sobrecarga? Qual o preço que pagamos por sermos “imprescindíveis”?

Convido você a refletir: como podemos construir uma sociedade onde o cuidado seja valorizado, compartilhado e reconhecido como trabalho essencial? Como podemos aliviar este peso que recai desproporcionalmente sobre os ombros femininos?

E você, já parou para pensar em quem está sustentando o peso do cuidado?